terça-feira, 27 de abril de 2010

Baile de máscaras




A noite estava calma. Fora do apartamento nada se ouvia além dos automóveis que vezenquando atravessavam a rua. Dentro dele, cortava o quarto, quase que de forma inauditível, uma música leve e calma de Edith Piaf: Non Je ne regrette rien. Havia no chão roupas, sapatos,taças, garrafas de vinho e cinzas de cigarro.
Ricardo, deitado sobre o peito de Henrique, encara o teto. De tão compenetrado parecia em transe, distante, em outro lugar, perdido. Henrique tocou os seus cabelos acarinhando-os e perguntou: - No que está pensando?
Passando a mão sobre a sua pele alva, lotada de pintinhas que ele dizia serem alaranjadas e o outro dizia serem marrons, Ricardo respondeu: - Em nós dois.
E,novamente, distraiu-se, mas desta vez perdido na beleza do outro. Perdido naqueles olhos castanhos, cabelos negros, em seu corpo atlético, em sua boca vermelha. Ricardo era pouca coisa mais alto que Henrique, cabeleira também negra. Era mais magro.Corpo de nadador. Tinha 19 anos, era 5 anos mais novo.
Quase todas as noites eles se isolavam do mundo externo em uma realidade própria onde não eram imorais nem pervertidos, eram eles próprios, apenas. Ali eles se permitiam ser , se permitiam sobretudo amarem um ao outro, de forma inteira, de forma intensa, sem reservas, sem pudor. E isso, para que no dia seguinte, quando os primeiros raios de sol entrassem pela janela, estivessem prontos para vestir suas máscaras e incorporarem seus personagens, afim de enfrentarem aquele mundo externo a eles. Aquele mundo frio e cinza. [continua...]