Ser homossexual em uma cidade do interior é mais complicado do que se pode imaginar. Aquela vidinha parada, sem nenhuma emoção parece ser tudo o que o mundo tem para te oferecer, resumia ao meu mundo, ao meu estilo de vida um estilo generalizado, isso antes de conhecer a internet, é claro . Olhava meio cético para tudo o que a televisão me mostrava, via com descrença principalmente aquele estilo de vida super-promiscuo que eles atribuíam aos homossexuais, entre outras pontos.
Passei a me questionar se existia mesmo todo esse apelo sexual entre as pessoas do meu grupo. A julgar pelo meu comportamento e pelos meus valores morais, eu achava que não, que esse apelo sexual exacerbado era apenas um foco dado preconceituosamente a nós pelos meios de comunicação. Depois que conheci a internet e o mundo se abriu para mim percebi ou ao menos tive a impressão de que eles não estavam tão errados. O bombardeio de informações que se sucedeu depois que eu passei a procurar pelos meus iguais na internet me deixou com uma profunda decepção. Promíscuos demais, entregues a boêmia , ao vinho e ao
sexo.
Por um tempo acreditei que ser homossexual resumia-se ao
sexo e ao culto de corpos malhados. Alvo fácil para os predadores no “mundo real” não queria me deixar corromper e me juntar a eles naquela eterna dança de provocação, sedução e
SEXO. Muitas pareciam nunca baixar a guarda, alguns pareciam nunca querer conversar, conhecer o outro... na maioria das vezes estavam com pressa, com urgência para o
sexo. De uma forma ou de outra eu me esquivava, me julgando jovem de mais, inexperientes demais.Eles tentavam se aproveitar da minha idade, me julgando bobo e fútil como os outros. Cruzei meus braços esperando que uma música agradável aos meus ouvidos me puxasse para o meio do salão.
Sempre me surpreendia com os convites inusitados, neguei fervorosamente aos convites para os sexos grupais, as transas casuais... Neguei aos convites dos “heteros” bêbados que às vezes queriam dar uma voltinha “só para conversar” por locais meio inóspitos. Descobri que os simples convites para ir a um restaurante estavam cheios de “más intenções”, no final o que eles queiram?
Sexo. Irritante, não?
Em um determinado período da minha vida simplesmente me irritei e passei a procurar melhores companhias, tanto na “vida real” quanto na internet. Foi a partir disso que decidi criar o meu blog e me entregar um pouco mais a militância, querendo descobrir como eu poderia me diferenciar dos outros. No início eu senti que meu blog era um blog solitário, depois vi parceiros, pessoas que pensavam da mesma forma que eu. Tornei-me mais criterioso com relação as pessoas que me relacionava e a vida foi tomando o seu rumo. Depois dessa virada até mesmo na ” vida real” passei a encontrar com homens e mulheres um pouco mais comprometidos e cheios de princípios... Finalmente encontrei o ritmo para a minha batida perfeita.
O preço disso foi a incompatibilidade com os outros do meu grupo que pensavam de uma forma totalmente diferente, apesar de sempre respeitar o modo de vida deles, eles nunca conseguiram respeitar o meu, a ruptura foi necessária e dali cresceu um certo preconceito e exclusão. Não me importei.